quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Só me arrependo daquilo que não fiz

Sinto que falta tempo ao tempo que gostava de poder ter. Muitos nem notam no pouco tempo que o tempo tem e na rapidez com que ele passa por nós.

Aos olhos dos outros, o tempo que passo sozinho são apenas momentos passados na solidão. Eu, por outro lado, olho para eles como momentos passados na companhia de mim mesmo. Tempo para pensar em tempos passados, em decisões e atitudes, que a pouco e pouco foram delineando cada parte dos caminhos em que agora me perco. Momentos bons, estou certo. Momentos maus, sei bem que sim. Basta um breve olhar sobre o passado, não preciso de procurar muito para encontrar um pouco de tudo. Desde coisas que foram feitas sem pensar a outras que foram pensadas sem fazer ou coisas que foram ditas por sentir e tantas outras foram sentidas por ouvir.

Há momentos na vida em que somos obrigados a escolher. Escolher entre fazer e não fazer. Podemos sempre escolher não fazer nada, mas ainda assim não estamos a fugir à situação. Se ela apareceu, não irá simplesmente desaparecer. Com o “não fazer nada”, estamos apenas a escolher um caminho em que não temos de escolher nem o “sim” nem o “não” nem o “faço” nem o “não faço”, um desvio por assim dizer. Ao escolhermos esse meio-termo, estamos a partir do principio que tudo já é nosso e que não mais precisamos de lutar pelo que tanto queremos. Damos tanta coisa por garantida que não nos apercebemos do que estamos realmente a perder. Mas essas são portas que não voltarei a abrir, um rumo que não voltarei a tomar. Querer demasiado algo ao ponto de ter medo de o perder, e então por isso não tentar: medo; receio. Não voltarei a atirar-me a mim mesmo para caminhos em que não posso ver uma segunda estrada, em que nunca poderei saber como seria a estrada que se prolonga junto a mim e ainda assim não estando nunca visível aos meus olhos. Talvez haja um outro mundo paralelo a este onde vivemos em que outro eu age ao contrário de mim, fazendo lá tudo o que eu aqui vou deixando por fazer. Mas mais uma vez, nunca irei saber como é a vida desse meu outro eu; se é melhor, se é pior, se é feliz, se é um pobre coitado. O problema de ter de decidir o que fazer quando aparecem as oportunidades mais únicas e importantes, está em ter pouco tempo para o fazer. Porque por muito que se queria algo, o momento em que são necessárias a maior força e determinação é por vezes o exacto instante em que nos traímos a nós próprios, fugindo aos nossos desejos e abdicando de tudo o que queremos. E depois disso, temos todo o tempo que antes queríamos para pensar no que fazer e não tínhamos. Mas só depois, quando já é tarde. Aí é inevitável usar esse tempo para pensar em como tudo seria se não tivéssemos hesitado. É inútil; as boas oportunidades só aparecem uma vez. A única coisa que agora sei, é que não voltarei a ficar na angústia do querer saber, não mais deixarei que o medo tome conta de mim e me bloqueie os caminhos que quero seguir, e se o fizer, deitarei a baixo todas as barrareis que encontrar.

Hoje, olho para trás e vejo que apesar das escolhas de outros tempos não terem sido as mais correctas, ajudaram-me a aprender a não o voltar a fazer. Tal como uma criança cai e volta a cair vezes e vezes sem conta até conseguir manter-se de pé, os erros também nos atiram contra o chão como se fossemos crianças e ensinam-nos a lutar e manter-nos de pé, frente a frente para com a vida. Enquanto crianças, até conseguir colocar primeiro um pé, depois o outro, e finalmente dar os primeiros passos, e para nós o desafio é conseguirmos estar confiantes e seguros de nós mesmos, sabendo que não voltaremos a deixar o tempo e as oportunidades passarem sem as agarrarmos.

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